Engate para proteger veículo é “tiro pela culatra”

images (2)Equipamento para reboque anula função do para-choque, que é justamente amortecer impactos causados por pequenas colisões, e ainda representa risco para pedestres.

O engate do tipo “bola” tem uma função muito clara e específica: permitir o reboque de carretinhas, para transportar objetos ou veículos. Muita gente, porém, instala esse equipamento no carro visando proteger o para-choque traseiro de pequenos impactos. Essa decisão, segundo os especialistas ouvidos pelo Auto Papo, não poderia ser mais equivocada, pois o efeito é justamente o contrário do esperado. Caso ocorra uma colisão, o acessório pode acabar potencializando os estragos.

 

“Reboque não é para-choque; essa não é a finalidade dele”, sintetiza Ricardo Dilser, consultor técnico do Grupo FCA (Fiat-Chrysler Automobiles). “O que poucos sabem é que, em caso de colisão traseira, esse equipamento pode acarretar prejuízos ainda maiores, transmitindo, sem nenhum tipo de filtro, todo o impacto para a parte do assoalho posterior do veículo”, explica.

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coordenador técnico do Centro de Experimentação e Segurança Viária do Brasil (Cesvi/Mapfre) esclarece os motivos que levam o reboque a ser nocivo em caso de acidente. “Dependendo do tipo de impacto, o engate poderá sofrer deformações que causarão danos mais pontuais na capa de para-choque e também no seu ponto de escoramento” (geralmente, na estrutura do veículo). Porém, o especialista pondera que isso “dependerá muito de cada modelo de engate e do veículo”.

Além da possibilidade de aumentar os estragos caso ocorra uma colisão traseira, o engate traz riscos para transeuntes. Isso porque, como esse equipamento forma uma protuberância destacada do para-choque, acaba constituindo um obstáculo para pessoas que circulam perto do carro, principalmente em locais onde há pouco espaço. “Um pedestre que passa entre dois veículos pode bater a perna contra o dispositivo”, alerta Burin.

Instalação requer mão-de-obra especializada

Até mesmo para quem o instala visando apenas conectar uma carretinha, o engate pode trazer dores de cabeça. “Intervenções mal-feitas na carroceria do veículo podem comprometer desde os tratamentos anti-corrosivos das chapas, ocasionando ferrugem, até chegar ao extremo de afetar a própria rigidez da carroceria”, adverte Dilser.

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Burin chama atenção para outra possibilidade: falha na conexão da instalação elétrica do engate. Se isso acontecer, ocasionará reflexos no sistema elétrico do veículo, como pane no funcionamento de luzes de faróis ou luzes de sinalização.

esse, segundo o técnico do Cesvi/Mapfre, é o menor dos problemas. “Um curto-circuito no chicote poderá provocar a queima dos fusíveis de proteção ou até problemas mais sérios”, pontua. Vale lembrar ainda que os carros atuais possuem muitos componentes eletrônicos, sensíveis a variações de carga de energia, cuja reposição não costuma ser barata.

Engate deve ser homologado

Para evitar problemas, proprietários que utilizam reboque devem, segundo os especialistas, instalar engates desenvolvidos pelo próprio fabricante do veículo. “O motorista deverá procurar por sistemas homologados, verificar se existe engate compatível para o seu tipo de veículo e nunca aceitar adaptações,” aconselha Burin. Dilser tem a mesma opinião: para ele, o consumidor deve adquirir “sempre equipamentos originais, homologados pela montadora.”

O técnico do Cesvi/Mapfre destaca que muitas variáveis estão envolvidas no desenvolvimento de um engate, e é justamente por isso que ele deve ter o crivo do fabricante do veículo. “Os projetos levam em consideração as questões de capacidade de carga, dimensões, sistemas de engate, sistemas elétricos e, dependendo, do porte do equipamento, até mesmo o sistema de acionamento de freio da carreta. Caso não seja homologado, poderá apresentar problemas nos itens citados”, salienta.

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Já o consultor técnico do Grupo FCA frisa que o projeto de um engate é bem mais complexo do que parece. “Equipamentos originais são desenvolvidos envolvendo as áreas de engenharia de projeto, ou seja, áreas ligadas à confecção do monobloco, time da pintura, da área de elétrica/eletrônica”, diz.

Segundo Dilser, são levadas em conta “a capacidade de carga do veículo e a correta comunicação da parte elétrica do reboque com a parte elétrica do carro, além de garantia de fábrica e a certeza de que o equipamento está fixado em uma parte da carroceria projetada para isso”.

Equipamento retrátil é alternativa

Existem no mercado alguns engates retráteis, que podem ser encaixados e um bocal próprio, preso ao veículo, quando estão em uso e retirados se estiverem sem função. Para Dilser, modelos homologados desse tipo constituem boa alternativa: “Os retráteis são mais justos com pedestres e outros veículos, pois não ficam ‘para fora do para-choque’ quando não utilizados”, conclui.

Fonte: autopapo.com.br