Recall do Tiguan: o amortecedor mais caro do planeta

recall_tiguan_allspace_2019Obrigação de publicar anúncio em jornal de grande circulação fez a Volkswagen gastar o equivalente ao preço um Gol 0 km.

uem leu o jornal “Folha de São Paulo” da última terça-feira, dia 18, deve ter reparado em mais um anúncio (de meia-página) chamando um carro para recall. Pode ter percebido também tratar-se de um novo carro da Volkswagen, o utilitário esportivo Tiguan AllSpace.

Mas é pouco provável que tenha reparado que o anúncio não se dirigia “aos proprietários” do Tiguan, mas “ao proprietário” do veículo. E, quem percebeu esse detalhe, pode ter imaginado tratar-se de um “singular coletivo”. Ou seja, dirigir-se ao dono de um carro pode significar estar se dirigindo todos os donos daquele modelo.

Mas, nada disso: o anúncio da Volkswagen se dirigia especificamente a um único proprietário de um Tiguan All Space chamado a “agendar com uma concessionária VW a substituição dos amortecedores traseiros”. A comprovação desta (literal) singularidade estava na relação dos chassis envolvidos: apenas um número.

Mas, por ser um único dono, não bastava ligar ou passar um whatsapp para o proprietário dele?

Não: recall tem seguir todas as exigências do Departamento de Proteção e Defesa do Consumidor, o DPDC, do Ministério da Justiça. Intransigente em suas posições, não importa se o recall atinge um, dois ou 3.000 carros. O fabricante (ou importador) é obrigado a publicar o anúncio de forma clara e visível.

Mas, quanto custa um recall? Fosse mais abrangente e em nível nacional, cerca de R$ 1 milhão. Como foi veiculado apenas na Folha de São Paulo e não se utilizou também de televisão, calcula-se que tenha custado perto de R$ 50 mil. O preço de um Gol zero-quilômetro…

Mesmo assim é muito para trocar dois amortecedores que custam R$ 819,70 cada. A troca do par mais o custo da mão de obra (R$ 265) seria de R$ 1.904,40. Tudo por um defeito na solda de uma bucha que poderia provocar um acidente.

Não é a primeira vez que a Volkswagen se vê na obrigação de estabelecer um recall para executar um reparo em um único automóvel: no início deste ano, o problema foi detectado em um Passat que poderia quebrar um componente do eixo traseiro.

Mas como um problema pode ocorrer numa única unidade? Não é bem assim: ambos são carros importados e o defeito se dá num lote com dezenas ou centenas de carros. Entretanto, entre todas as unidades chamadas pela fábrica para o recall, apenas uma foi importada para o Brasil.

O DPDC está correto ao tornar obrigatório um recall para reparo gratuito de algum componente do veículo envolvido com segurança. Mas exigir que seja feito para um número reduzido de unidades, mesmo depois de se ter identificado todos os proprietários, é ser mais realista que o rei.

Se o órgão está mesmo interessado em defender e proteger o consumidor, basta dar uma voltinha por casas de peças e lojas de pneus na periferia das cidades que vai encontrar muito trabalho pela frente.

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Fonte: autopapo.com.br