Problemas de saúde contribuíram para 250 mil acidentes de trânsito nos últimos cinco anos

Acidente-ônibus-e-carreta-na-BR-020Dados são da Polícia Rodoviária Federal (PRF) e foram contabilizados pela Associação Brasileira de Medicina de Tráfego (Abramet).

Problemas de saúde dos motoristas contribuíram para a ocorrência de cerca de 250 mil acidentes de trânsito registrados em rodovias federais entre janeiro de 2014 e junho de 2019. A conclusão é da Associação Brasileira de Medicina de Tráfego (Abramet), a partir de dados da Polícia Rodoviária Federal (PRF).

Segundo os especialistas da Abramet, as ocorrências deixaram um saldo de 12.449 mortos e 208.716 feridos. Ainda de acordo com a pesquisa, doenças orgânicas dos motoristas são responsáveis por cerca de 12% do total de acidentes de trânsito fatais.

Como não foram contabilizados os casos registrados nos centros urbanos e rodovias estaduais, os números representam apenas uma mostra dos acidentes de trânsito cuja causa está, de certa forma, relacionada ao quadro geral de saúde dos condutores.

De acordo com o diretor da Abramet e membro da Câmara Técnica do Conselho Federal de Medicina (CFM), Antonio Meira Júnior, as seis principais causas de acidentes de trânsito nas rodovias federais brasileira são:

– A falta de atenção;
– A ingestão de álcool;
– O sono ao volante;
– O mal súbito;
– A visão restrita;
– A ingestão de substâncias psicoativas.

Essas causas estão, em maior ou menor grau, relacionadas aos problemas de saúde dos motoristas. Ao apresentar o resultado da análise da base de dados da PRF, Meira adicionou:

A maioria dos acidentes não é incidental. Eles não acontecem por acaso e, na grande maioria, são passíveis de ser prevenidos. E uma das formas mais eficazes de prevenção é a realização periódica do exame de aptidão física e mental por um médico de tráfego apto a avaliar se o condutor tem alguma doença que possa influenciar na direção

Ainda segundo o especialista, motoristas com doenças cardiovasculares, diabetes e epilepsia são os que mais devem estar atentos a eventuais prejuízos à capacidade de dirigir. Para a Abramet, as implicações dessas doenças podem comprometer a visão e a capacidade de prestar atenção, além de, eventualmente, provocarem comprometimento motor ou do raciocínio, além de distúrbios de sono.

Mudanças propostas por Bolsonaro e problemas de saúde

A divulgação dos números reforça os argumentos da Abramet e de outras entidades, como a Associação Brasileira de Psicologia de Tráfego, o Fórum Nacional dos Conselhos Estaduais de Trânsito (Focotran) e a Associação Nacional dos Detrans (And), quanto à importância da adequada e periódica avaliação médica dos motoristas e de candidatos a obtenção de novas Carteiras Nacional de Habilitação (CNH).

“A realização do Exame de Aptidão Física e Mental é importante, pois caso o condutor tenha alguma comorbidade que possa prejudicar [sua capacidade de dirigir um veículo], o médico especialista em medicina de tráfego poderá diagnosticar sua inaptidão temporária ou definitiva para dirigir”, acrescentou Meira.

Ele criticou o Projeto de Lei 3.267/2019, que propõe várias mudanças no Código de Trânsito Brasileiro (CTB), como a ampliação da validade do Exame de Aptidão Física e Mental dos atuais cinco anos para dez anos e de três anos para cinco no caso de condutores com mais de 65 anos de idade.

“Achamos que a aprovação do projeto pode aumentar as tragédias no trânsito. Por isso, estamos colaborando com o Poder Público com estudos e com dados científicos. Na medicina não trabalhamos com achismos. É tudo baseado em evidências científicas”, disse Meira, assegurando que pesquisas apontam a importância do exame de aptidão para atestar, inclusive, os problemas de saúde do condutor.

Segundo o presidente da Abramet, Juarez Monteiro Molinari, representantes de várias entidades ligadas à Medicina do Tráfego estão percorrendo a Esplanada dos Ministérios e o Congresso Nacional para tentar sensibilizar o governo e parlamentares sobre o que classifica como “aspectos eleitoreiros” do projeto de lei.

Molinari rebateu os argumentos de que o aumento do prazo de validade do exame médico é uma resposta para a demanda pelo barateamento dos custos de obtenção da CNH:

Essa redução de custo não traz benefícios para a comunidade. O custo do exame médico não chega a 5% do valor total da CNH. Há muitas outras coisas que a encarecem. Ampliar a validade do exame para dez anos é até compreensível para jovens até os 30 anos, mas, acima disso, é recomendável a revisão periódica.

Fonte: https://autopapo.com.br